Tecnologia

Principais sites de e-commerce brasileiros não estão adaptados para receber pessoas com deficiência

RIO - As lojas de comércio eletrônico têm falhado na aplicação de recursos de acessibilidade. As informações são do 2º Estudo de Acessibilidade em Sites, do Movimento Web para Todos, com as 15 lojas de comércio eletrônico mais acessadas no país, de acordo com o Alexa, assistente virtual para análise de audiência. Segundo Reinaldo Ferraz, especialista em Desenvolvimento Web que conduziu o estudo, esses percalços, muitas das vezes, podem impedir que o usuário com deficiência faça a compra.

— Se a busca no site, o carrinho de compras, o cadastro ou o pagamento tiver uma barreira de acesso, o usuário pode não conseguir terminar o processo — afirma Ferraz.

No Brasil, mais de 45 milhões de pessoas sofrem de algum tipo de deficiência – temporária ou permanente – segundo o IBGE. Para que elas pudessem acessar ambientes virtuais, foram criados alguns recursos e serviços que proporcionam ou ampliam as suas habilidades funcionais.

A chamada tecnologia assistiva permite, por exemplo, que uma pessoa cega consiga compreender as informações de uma página por meio de um software que converte o conteúdo do site para o formato de áudio. No entanto, segundo a pesquisa, apenas em 25% dos casos o usuário conseguiu identificar e entender a imagem a partir do leitor de tela.

Segundo William Daflita, líder de tecnologia do Movimento Web para Todos, "quando esses textos não existem ou estão incompreensíveis, o usuário pode não entender o contexto ou o significado daquela imagem".

Para as pessoas com limitação visual, o recurso é o aumento da fonte da página. No teste, a fonte era aumentada para 200%, a fim de verificar como os sites reagiriam a um zoom aumentado. Neste item, 46% dos usuários relataram que a página não se comportou de maneira adequada após o aumento da fonte.

Outro recurso, direcionado às pessoas com alguma deficiência motora, é a navegação por teclado, que consiste na utilização de ponteiras – na boca ou na testa – para acessar os itens interativos da página. Pessoas com dificuldades de clicar em ícones pequenos, seja por uma doença ou por destreza motora reduzida pela idade, também encontraram obstáculos nesse ponto.

Essa dificuldade passa pela identificação do chamado 'foco' da página (local onde é possível identificar os itens interativos). Nesse quesito da pesquisa, somente 39% dos usuários conseguiram identificar esse foco e prosseguir com a navegação.

Para as pessoas com surdez ou alguma outra limitação auditiva, há a Língua Brasileira de Sinais (Libras), que utilizam gestos para transmitir informações ao público. No entanto, dos 15 sites analisados, apenas um deles oferecia este recurso.

A pesquisa analisou, ainda, acesso a contatos e dados da empresa, localização de produtos no site, informações sobre pagamentos e descontos, alterações no carrinho de compras, preenchimento do formulário de cadastro, correção de erros, conclusão e cancelamento da compra.

Segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), o e-commerce brasileiro cresceu 12% no ano passado em relação a 2016, movimentando R$ 59,9 bilhões. Para 2018, a projeção de crescimento é de 15%.

Simone Freire, idealizadora do Movimento Web para Todos, explica que a meta é a ajudar as lojas virtuais a pensarem de maneira inclusiva, que permita se adequarem à legislação, e a receberem milhões de consumidores que estão esquecidos.